Cada um tem o Ele que merece.
Segunda-feira, trânsito pesado e reunião no primeiro horário.
Todos já estão na sala oval. Começa o burburinho.
Supõem-se de tudo, mas nada justifica aquele atraso.
Ora, aquela era a primeira vez em milênios, pelo menos dois.
Eis que Ele surge, barba e cabelos grisalhos e desalinhados, túnica imaculadamente branca.
Ele vem com passo apressado, batendo as sandálias. Traz nas mãos o pergaminho com os assuntos da reunião.
Deus:- Por favor, por favor, eu peço desculpas pelo atraso e que os senhores se sentem o mais rápido possível! Senhores tomem seus lugares, por favor. Os trabalhos serão abertos. Senhor Bonaparte, eu concordo que poderia ter consultado o general antes de criar o mundo, mas não foi possível e de nada adianta o senhor ficar aí, em pé, me encarando.
Napoleão:- Sentar eu me sento, mas a mão de dentro da casaca eu não tiro. É meu sinal de protesto.
Hércules:- Vocês criam, inventam terra, céu, mar, oceano, coisa para caramba e quem carrega tudo nas costas sou eu. Isso não é justo.
Deus:- Calma pessoal. Senhoras, por favor…
Maria Antonieta:- Olhem só isso! Que coisa mais cafona, cortem a cabeça dessa horrorosa!
Carmem Miranda:- Yes, nós temos banana/Banana pra dar e vender
Deus:- Calma meus senhores, o mundo não vai acabar, não há razão para tudo isso.
Napoleão:- Há razão para isso e muito mais, ou o Senhor pensa que o mundo gira em torno de quê, de quem?! Tivesse me consultado e tudo seria diferente… Vive la France!
Deus:- Senhor Bonaparte, contenha-se, e, por favor, dê um jeito na sujeira que seu cavalo acaba de fazer em nossa sala.
Maria Antonieta:- Cortem, cortem a cabeça deste cavalo imundo, nojento!
Napoleão:- Comigo a madam não se mete, hein?! A belle sabe muito bem do que eu sou capaz… Liberté, Egalité, Fraternité! Vive la Révolution!
Deus:- Senhor Napoleão, faça-me o favor: eu já lhe pedi, contenha-se.
Maria Antonieta:-…!
Carmem Miranda:- Banana menina, desbaratina/Banana engorda e faz crescer
Maria Antonieta:- Cortem a cabeça dessa mulher… E me tragam as frutas!
Hércules:- Chefe quer que eu dê um murro na mesa? Às vezes funciona.
Deus:- Obrigado meu caro, mas eu não simpatizo com esses métodos, digamos assim, primitivos.
Hércules:- Então quer dizer que eu viver carregando essa bola que o Senhor criou não é primitivo não, né?! Só pra ver se eu entendi.
Deus:- Meu filho acontece que cada um tem uma determinada função no equilíbrio das coisas. A sua é carregar, sustentar, manter tudo no lugar, eu sei que há outros 12 trabalhos, que isso é acúmulo de funções, mas é só o começo. Logo as coisas engrenam... Você verá. Já a senhorita Carmem Miranda tem a nobre função de nos embevecer com a arte de sua dança e de sua música. Enquanto mademoiselle Maria Antonieta e monsieur Napoleão Bonaparte são franceses, a rainha e o general, futuro imperador da França.
Hércules:- E qual é a função dos franceses nesse tal de equilíbrio?
Deus:- Bom, aí o assunto fica um pouco mais complicado.
Napoleão:- Olhem, vejam, o Senador parece querer pronunciar-se, silêncio!
Aí então, e só aí, a pedido do cavalo proclamado por honra e distintos méritos, todos calaram.
Napoleão:- Meu Senador pode falar, sou todo ouvidos.
O cavalo branco se concentrou, fez uma cara esquisita, torceu o maxilar, soltou um sonoro e catinguento peido e relinchou aliviado.
A trupe caiu na gargalhada.
Fiel, em obediência aos cânones da democracia e do livre arbítrio perpetrados por Ele mesmo, Deus resolveu adiantar o expediente. Assinou, despachou, tornou a calçar as sandálias da humildade e voltou para casa em tempo de assistir ao pôr-do-sol.
Serão logo na segunda, não há cristão que agüente – pensou com Ele mesmo.
Todos já estão na sala oval. Começa o burburinho.
Supõem-se de tudo, mas nada justifica aquele atraso.
Ora, aquela era a primeira vez em milênios, pelo menos dois.
Eis que Ele surge, barba e cabelos grisalhos e desalinhados, túnica imaculadamente branca.
Ele vem com passo apressado, batendo as sandálias. Traz nas mãos o pergaminho com os assuntos da reunião.
Deus:- Por favor, por favor, eu peço desculpas pelo atraso e que os senhores se sentem o mais rápido possível! Senhores tomem seus lugares, por favor. Os trabalhos serão abertos. Senhor Bonaparte, eu concordo que poderia ter consultado o general antes de criar o mundo, mas não foi possível e de nada adianta o senhor ficar aí, em pé, me encarando.
Napoleão:- Sentar eu me sento, mas a mão de dentro da casaca eu não tiro. É meu sinal de protesto.
Hércules:- Vocês criam, inventam terra, céu, mar, oceano, coisa para caramba e quem carrega tudo nas costas sou eu. Isso não é justo.
Deus:- Calma pessoal. Senhoras, por favor…
Maria Antonieta:- Olhem só isso! Que coisa mais cafona, cortem a cabeça dessa horrorosa!
Carmem Miranda:- Yes, nós temos banana/Banana pra dar e vender
Deus:- Calma meus senhores, o mundo não vai acabar, não há razão para tudo isso.
Napoleão:- Há razão para isso e muito mais, ou o Senhor pensa que o mundo gira em torno de quê, de quem?! Tivesse me consultado e tudo seria diferente… Vive la France!
Deus:- Senhor Bonaparte, contenha-se, e, por favor, dê um jeito na sujeira que seu cavalo acaba de fazer em nossa sala.
Maria Antonieta:- Cortem, cortem a cabeça deste cavalo imundo, nojento!
Napoleão:- Comigo a madam não se mete, hein?! A belle sabe muito bem do que eu sou capaz… Liberté, Egalité, Fraternité! Vive la Révolution!
Deus:- Senhor Napoleão, faça-me o favor: eu já lhe pedi, contenha-se.
Maria Antonieta:-…!
Carmem Miranda:- Banana menina, desbaratina/Banana engorda e faz crescer
Maria Antonieta:- Cortem a cabeça dessa mulher… E me tragam as frutas!
Hércules:- Chefe quer que eu dê um murro na mesa? Às vezes funciona.
Deus:- Obrigado meu caro, mas eu não simpatizo com esses métodos, digamos assim, primitivos.
Hércules:- Então quer dizer que eu viver carregando essa bola que o Senhor criou não é primitivo não, né?! Só pra ver se eu entendi.
Deus:- Meu filho acontece que cada um tem uma determinada função no equilíbrio das coisas. A sua é carregar, sustentar, manter tudo no lugar, eu sei que há outros 12 trabalhos, que isso é acúmulo de funções, mas é só o começo. Logo as coisas engrenam... Você verá. Já a senhorita Carmem Miranda tem a nobre função de nos embevecer com a arte de sua dança e de sua música. Enquanto mademoiselle Maria Antonieta e monsieur Napoleão Bonaparte são franceses, a rainha e o general, futuro imperador da França.
Hércules:- E qual é a função dos franceses nesse tal de equilíbrio?
Deus:- Bom, aí o assunto fica um pouco mais complicado.
Napoleão:- Olhem, vejam, o Senador parece querer pronunciar-se, silêncio!
Aí então, e só aí, a pedido do cavalo proclamado por honra e distintos méritos, todos calaram.
Napoleão:- Meu Senador pode falar, sou todo ouvidos.
O cavalo branco se concentrou, fez uma cara esquisita, torceu o maxilar, soltou um sonoro e catinguento peido e relinchou aliviado.
A trupe caiu na gargalhada.
Fiel, em obediência aos cânones da democracia e do livre arbítrio perpetrados por Ele mesmo, Deus resolveu adiantar o expediente. Assinou, despachou, tornou a calçar as sandálias da humildade e voltou para casa em tempo de assistir ao pôr-do-sol.
Serão logo na segunda, não há cristão que agüente – pensou com Ele mesmo.