Blog do Lulu 2.0

Tuesday, March 31, 2009

Que língua é essa?

Profissional respeitado no mundo das letras, alto executivo de uma conceituada editora, o homem andava mordido de preocupação.
A tal Reforma Ortográfica, tão desacreditada por ele, saiu e já estava gerando custos extras, despesas essas cuja tendência de crescimento era clara e certa.
De lá para cá e de cá para lá, andava em busca de um vislumbre, de um achado para compensar os gastos gerados pela Nova Ortografia - quem diria - pensava com desdém.
Resolveu fazer como há muito não fazia. Sair simplesmente para ver quem andava por lá. Observar a vida alheia pode ser um bom remédio para quando se tem essa espécie de bloqueio, esse embargo que o cérebro e a lucidez declaram aos nossos pensamentos.
Traçou uma estratégia segura. Ir ao mesmo bar, sentar-se à mesma mesa, falar com o mesmo garçom e assim encontrar uma zona confortável, de onde pudesse observar o comportamento da turma, ou galera, como agora o pessoal diz.
Chegou ao lugar que um dia foi o de sempre e que não parecia ser o mesmo. Também não encontrou Índio, o bom homem de traços fortes e distintos que por anos o serviu. Mas sua mesa continuava lá, bem posicionada. Chamou pelo vinho da casa, que, para sua surpresa, também continuava sendo o mesmo.
Dos antigos amigos e assíduos frenquentadores, ninguém deu as caras. O que lhe chamou a atenção e provocou sua curiosidade foram as turmas e os casais de jovens que chegavam. Todos pareciam muito animados, ou já embalados, como antigamente a moçada dizia.
Quando um dos casais sentou-se à mesa de número quinze, logo ao lado da sua, ele vibrou. Dali, daquela posição, conseguia ver quem entrava e saía da casa e ainda ouvir bem as conversas que se desenrolavam ao seu redor. Pediu mais uma taça e tratou de aguçar os sentidos.
Logo, um amigo deles chegou e sentou-se:
- E então Joe, belê?
- Tudo firmê, Joe!
- E lá?
- Suave!
- Somente... E a parada, rolou?
- Qual delas? Qual das paradas?
- Aquela do Jordão, tá ligado?!
- Só tô, mas nem sei. A parada do Thiago tá pra rolar.
- Será? Tão falando dessa parada aí faz a maior cara e nada!
- Mas parece que agora vai. O auê já tá em pé... Dessa vez alguma coisa deve virar.
Resolveu pedir mais uma e continuar a seguir o papo. Hora ou outra ele haveria de pegar o fio da meada.
- E aquela outra parada lá, no que deu?
- Qual delas? Qual das paradas?
- Aquela mais sinistra?
- Ah, morreu.
- E ficou por isso mesmo?
- Suave!
- Somente... Bom meu velho, tô dando linha.
- Segura a onda aí, tá cedo ainda.
- Posso não, tenho umas paradas pra ver.
- Então firmê! Na madrú, entra lá pra gente tecê, quero te contar uma fita que rolou aí.
- Se pá... Cola lá no pico mais tarde, ôh!
- Nem vai rolar, Joe.
- Belê então, Joe... Até mais!
Apressou-se em pedir e pagar a conta. Reagiu prontamente ao impulso de seguir o rapaz. Tinha que descobrir do que se tratava, do que eles estavam falando.
Saiu tarde demais, o jovem havia desaparecido noite à dentro.
Durante o caminho de volta, decidiu lançar o Dicionário de Sinônimos e Expressões Idiomáticas mais completo que já fora editado em toda a América Latina. Dali para frente, passou também a defender a necessidade premente de se fazer uma ampla e cuidadosa revisão em nosso atual Sistema Fonético.