Amigo é para cada coisa.
Três horas e dezoito minutos apontava o relógio quando o interfone tocou.
- Alô!
- Alô, aquele amigo do senhor tá aqui embaixo.
- Fala pra ele subir.
- Ele não quer, disse que é pro senhor descer.
- Mas são mais de três da manhã?!
- Eu acho melhor o senhor descer. O homem não tá bom não.
- Pede pra ele esperar.
Calça, camisa, sapato, cadê a chave da porta? Aqui, achei. Carteira e chave do carro... Não, não precisa. Chama o elevador. Tranca a porta. Cadê a chave? Achei - desceu apressado.
- O que você tá fazendo aqui à essa hora?
- Ela foi embora.
- Ah, é isso! Mais cedo ou mais tarde ela ia mesmo, cansou de te avisar.
- Mas ela foi mesmo, se mandou. Avisar, falar, esbravejar, chorar é uma coisa; coisa de mulher. Já ir embora, se mandar é completamente diferente.
- Cara, você passou anos e anos aprontando, nunca deu bola pra isso, sempre disse: o dia em que acontecer, acontecido estará. E todo mundo falando, avisando, dizendo que as coisas não são bem assim.
- Nada disso justifica a destrambelhada, a maluca, a desvairada, levar minha filha, minha menina pra casa da jararaca da mãe dela. Jararaca é pouco, pra casa daquela víbora.
- Você queria que ela fizesse o quê? Deixasse a menina sozinha, te esperando chegar da farra...
- Mas eu sempre cheguei.
- O problema sempre foi de onde, a que horas e o estado.
- Besteira.
- Para você. Quisesse ficar na noite, tivesse ficado solteiro, que nem eu.
- Quê foi, heim?! Tá do lado dela, é?!
- Não, só tô tentando fazer você entender que pisou na bola, passou da conta, abusou.
- Mas foi só um pouquinho… Pô, ela me deixou, eu tô tristão.
- Não tô falando de hoje, tô falando de uma vida.
- Cara... Você tem a maior paciência comigo, né?
- Há muitos anos.
- Você é um amigão. É meu melhor amigo.
- Pára com isso, vai.
- Dá um abraço.
- Sai para lá.
- Tá vendo? Todo mundo me rejeita, ninguém gosta de mim.
- Ai caramba!
- Me dá um abraço vai, de amigo. Tô tão carente!
- São quase quatro da manhã e eu vou ficar aqui, abraçando homem na porta da minha casa?! Tô fora.
- Pô, mas é abraço de amigo, de irmão, por favor.
- Vamos lá pra cima, você toma mais uma para esquecer e dorme. Amanhã é outro dia, quer dizer, hoje. Hoje já é outro dia.
- Mas antes eu quero um abraço.
- Pára com isso.
- É pra ter certeza.
- Certeza de quê?
- De que você é meu amigo de verdade mesmo. De que não tá fazendo isso só por piedade.
- Meu irmão, deixa de frescura e vamos subir logo.
- Primeiro me dá um abraço.
- Tá bom vai, vem cá.
Neste exato momento, a rapaziada que volta da balada passa de carro, põe a cabeça para fora da janela e grita em coro.
- Aí, boiola! Beija, beija, beija!
- Viu que puta vexame? Tá feliz agora?
- Agora tô.
- Vai, entra logo, vamos subir.
- Cara, eu acho que te amo.
- Cala essa boca!
Roupa de cama, lençol, cobertor, travesseiro, onde será que tem travesseiro? Travesseiro, travesseiro, travesseiro, aqui, achei! Falta alguma coisa… Ah, que se dane – discutiu com ele.
- Toma, deita aí no sofá e vê se me deixa dormir.
- Dá um beijo de boa noite...
- Ora rapaz, vai te catar...
- Já tá parecendo minha mulher, me põe pra dormir no sofá e não dá nem boa noite.
- Alô!
- Alô, aquele amigo do senhor tá aqui embaixo.
- Fala pra ele subir.
- Ele não quer, disse que é pro senhor descer.
- Mas são mais de três da manhã?!
- Eu acho melhor o senhor descer. O homem não tá bom não.
- Pede pra ele esperar.
Calça, camisa, sapato, cadê a chave da porta? Aqui, achei. Carteira e chave do carro... Não, não precisa. Chama o elevador. Tranca a porta. Cadê a chave? Achei - desceu apressado.
- O que você tá fazendo aqui à essa hora?
- Ela foi embora.
- Ah, é isso! Mais cedo ou mais tarde ela ia mesmo, cansou de te avisar.
- Mas ela foi mesmo, se mandou. Avisar, falar, esbravejar, chorar é uma coisa; coisa de mulher. Já ir embora, se mandar é completamente diferente.
- Cara, você passou anos e anos aprontando, nunca deu bola pra isso, sempre disse: o dia em que acontecer, acontecido estará. E todo mundo falando, avisando, dizendo que as coisas não são bem assim.
- Nada disso justifica a destrambelhada, a maluca, a desvairada, levar minha filha, minha menina pra casa da jararaca da mãe dela. Jararaca é pouco, pra casa daquela víbora.
- Você queria que ela fizesse o quê? Deixasse a menina sozinha, te esperando chegar da farra...
- Mas eu sempre cheguei.
- O problema sempre foi de onde, a que horas e o estado.
- Besteira.
- Para você. Quisesse ficar na noite, tivesse ficado solteiro, que nem eu.
- Quê foi, heim?! Tá do lado dela, é?!
- Não, só tô tentando fazer você entender que pisou na bola, passou da conta, abusou.
- Mas foi só um pouquinho… Pô, ela me deixou, eu tô tristão.
- Não tô falando de hoje, tô falando de uma vida.
- Cara... Você tem a maior paciência comigo, né?
- Há muitos anos.
- Você é um amigão. É meu melhor amigo.
- Pára com isso, vai.
- Dá um abraço.
- Sai para lá.
- Tá vendo? Todo mundo me rejeita, ninguém gosta de mim.
- Ai caramba!
- Me dá um abraço vai, de amigo. Tô tão carente!
- São quase quatro da manhã e eu vou ficar aqui, abraçando homem na porta da minha casa?! Tô fora.
- Pô, mas é abraço de amigo, de irmão, por favor.
- Vamos lá pra cima, você toma mais uma para esquecer e dorme. Amanhã é outro dia, quer dizer, hoje. Hoje já é outro dia.
- Mas antes eu quero um abraço.
- Pára com isso.
- É pra ter certeza.
- Certeza de quê?
- De que você é meu amigo de verdade mesmo. De que não tá fazendo isso só por piedade.
- Meu irmão, deixa de frescura e vamos subir logo.
- Primeiro me dá um abraço.
- Tá bom vai, vem cá.
Neste exato momento, a rapaziada que volta da balada passa de carro, põe a cabeça para fora da janela e grita em coro.
- Aí, boiola! Beija, beija, beija!
- Viu que puta vexame? Tá feliz agora?
- Agora tô.
- Vai, entra logo, vamos subir.
- Cara, eu acho que te amo.
- Cala essa boca!
Roupa de cama, lençol, cobertor, travesseiro, onde será que tem travesseiro? Travesseiro, travesseiro, travesseiro, aqui, achei! Falta alguma coisa… Ah, que se dane – discutiu com ele.
- Toma, deita aí no sofá e vê se me deixa dormir.
- Dá um beijo de boa noite...
- Ora rapaz, vai te catar...
- Já tá parecendo minha mulher, me põe pra dormir no sofá e não dá nem boa noite.