A Ladra.
Antes mesmo do verbo, a prosa era em verso. Assim fez-se a poesia que entusiasma a moça e a faz se apurar ao receber o presente. Não pelo que a caixa contém e sim pelo conteúdo do cartão. Um Neruda, um Pessoa, um Drummond, um Lorca, um Alberti, um Vinicius, Clarice, Coralina ou um trecho de Chico, não importa, a estrofe surrupiada é passada para frente pela cotação do original.
Amiga do rapaz enamorado, mulher belíssima de cabelos longos, olhos ferinos e andar de passarela, a moça é também amiga dos livros. Declina-se em afeto por cada um deles. Apreço que não nutre pelos autores dos mesmos. A esses considera apenas instrumentos, e muitas vezes mal antepostos, que seguem a própria escrita, se perdem em um rebojo de desilusões e acabam por não honrar, ao menos em vida, tamanha graça.
Gente a quem agrada o rude do sofrimento e da desesperança, que denuncia a aridez da espera diante do que amamos em segredo, que tem propensão para o desengano e admiração pelo crepúsculo. Um bando de traídos e ultrajados, abismo abstrato de fantasias que a tristeza domina com mãos de ferro.
O poder de escolher palavras como se fossem pérolas e colocá-las uma ante a outra, transformando o que até então não era nada em preciosidades de valor incalculável, tal dom, não se pode, ou não se deveria dadivar àqueles de vidas avessas, beberrões, viciados, muitas vezes de conflitantes e duvidosas crenças e preferências.
Definitivamente não! Até para a licença poética deve haver limites. A esmagadora maioria não merece tamanha divícia.
Diz ela saber mais da arte de poetar do que qualquer um deles e que roubar-lhes é sua doce vingança. Afirma e reitera, sempre quando possível, que poetas de verdade são aqueles que vendem o que escrevem. E não uns e outros que escrevem só o que vende.
Na ponta da língua está também o ponto final para qualquer turra ética ou duelo moralista:
- O poeta é apenas um meio de ver. Quem a ele confere a habilidade de enxergar aquilo que os outros não vêem sou eu,
a Rima.
Amiga do rapaz enamorado, mulher belíssima de cabelos longos, olhos ferinos e andar de passarela, a moça é também amiga dos livros. Declina-se em afeto por cada um deles. Apreço que não nutre pelos autores dos mesmos. A esses considera apenas instrumentos, e muitas vezes mal antepostos, que seguem a própria escrita, se perdem em um rebojo de desilusões e acabam por não honrar, ao menos em vida, tamanha graça.
Gente a quem agrada o rude do sofrimento e da desesperança, que denuncia a aridez da espera diante do que amamos em segredo, que tem propensão para o desengano e admiração pelo crepúsculo. Um bando de traídos e ultrajados, abismo abstrato de fantasias que a tristeza domina com mãos de ferro.
O poder de escolher palavras como se fossem pérolas e colocá-las uma ante a outra, transformando o que até então não era nada em preciosidades de valor incalculável, tal dom, não se pode, ou não se deveria dadivar àqueles de vidas avessas, beberrões, viciados, muitas vezes de conflitantes e duvidosas crenças e preferências.
Definitivamente não! Até para a licença poética deve haver limites. A esmagadora maioria não merece tamanha divícia.
Diz ela saber mais da arte de poetar do que qualquer um deles e que roubar-lhes é sua doce vingança. Afirma e reitera, sempre quando possível, que poetas de verdade são aqueles que vendem o que escrevem. E não uns e outros que escrevem só o que vende.
Na ponta da língua está também o ponto final para qualquer turra ética ou duelo moralista:
- O poeta é apenas um meio de ver. Quem a ele confere a habilidade de enxergar aquilo que os outros não vêem sou eu,
a Rima.