Blog do Lulu 2.0

Wednesday, December 31, 2008

Rascunho.

Encerradas as formalidades, passadas as festas e mantidas as mesmas promessas não cumpridas feitas nos anos anteriores, seu despertar é morfinômano. Tudo parece girar, por um instante sente como se a terra rodasse sob seus pés. É atacado por uma vertigem que o atira ao chão, mas o que machuca é o fato de que não há aí nada de inesperado.
Assusta-se com a idéia de que não pode mais ser surpreendido. Pensa em quantos anos ainda vão terminar e recomeçar da mesma maneira.
Considera que, nas últimas quatro décadas, o mundo atravessou o que parece ser um rito de passagem, como é a adolescência, época em que não se é mais jovem o bastante para crer-se dono da razão, porém ainda não se é velho o suficiente para repensar verdades próprias, compreender a filosofia que só a experiência é capaz de ensinar.
Lembra-se de que há duas gerações, na noite de 31 de março de 1968, o único afro-americano que, até então, ameaçara se candidatar à presidência dos EUA, Martin Luther King, fora assassinado. Já em janeiro do ano que começa, Barack Obama assumirá o cargo de presidente da república estadounidense.
A partir daí, o homem mais poderoso do mundo será negro.
O sonho de King parecerá ter amadurecido e se convertido em realidade: o mundo nunca mais será visto em preto ou branco.
Imagina que diante tal acontecimento alguns cristãos poderão se tornar ateus; agnósticos deverão aderir a seitas; incrédulos começarão a torcer para que discos voadores os resgatem; e em último e extremo caso, todos poderão apelar à mais alta sabedoria contemporânea: os livros de auto-ajuda.
Mesmo parecendo um ano mais maduro, no fundo, no fundo ele sabe que continuará tentando solucionar problemas e achar repostas de dúvidas passadas ou futuras, para que assim possa esquecer, por algum tempo, as que estão por aí, que batem em sua porta dia a dia.
Ao que tudo indica, e há evidências que comprovam, permanecerá esperando, tal e qual criança mimada, que o tempo dê conta e desapareça com as questões do presente.
De última hora, busca algo que o faça reunir forças, levantar e seguir. Pensa que nesta história sem moral nem sentido, na chamada vida de cada um, ainda resta a expectativa de que o fim seja um recomeço, uma nova chance de passar certas coisas a limpo.