Papo de Crocodilo.
Quando viu a bela garota sentada na praça, toda de branco, sozinha e chorando, o malandro não se conteve.
- Posso sentar-me ao seu lado?
Ela consentiu com um desinteressado chacoalhar de ombros e começou a enxugar as lágrimas.
- Eu nunca chorei.
Ela reagiu num lampejo.
- Impossível!
- Nunca mesmo, de verdade...
- Quer dizer que você nunca teve o coração partido, um ente querido perdido, um surto de raiva, depressão, desilusão?
- Já! Mas nem por isso chorei.
- Tem alguma coisa errada aí, como pode?! Essa história de que homem não chora é uma tremenda besteira. O meu ex, por exemplo, virava e mexia chorava: de tristeza, de alegria, de emoção, de raiva.
- Por isso que é ex...
- Não, não é por isso! Mas deixa pra lá... Fale de você, isso deve ter uma razão muito séria.
- O quê? O fato de eu nunca ter chorado?!
- É lógico! Deve ser algum problema glandular, você precisa ir ao endocrinologista.
- Endóqui... O quê?
- O médico especialista em cuidar das glândulas.
- Ná-nãni-ná-não, na minha família quem vai ao médico logo depois pifa, sobe, desencarna!
- Deixa de bobagem, no mínimo isso acontece porque sempre deixam pra última hora.
- Aí, eu já não sei. Mas em médico eu não vou nem amarrado.
- E se eu te levar?
- Como assim?
- Se eu marcar horário em um endócrino, que é muito amigo meu, e levar você até lá... Topa fazer uma consulta?
- Você faria isso por mim, um mero desconhecido?
- Faria!
- Jura?!
- Eu marco o dia, a hora, te ligo e a gente combina. Vou levar você ao doutor Matheus.
- Acho que antes eu tenho que te contar uma coisa.
- Diz, me conta para eu poder te ajudar.
- É que eu... Eu já chorei muito uma vez. Foi quando me abandonaram. Eu era pequeno e chorei tanto, tanto que minhas lágrimas acho que secaram.
- Isso é clinicamente impossível! O que aconteceu é que você bloqueou suas emoções. É comum em casos agudos, quando a pessoa passa por um sofrimento muito forte sem que esteja emocionalmente madura. O psicológico não segura a onda e,
mais tarde, o trauma se manifesta fisicamente, como se fosse uma ferida, só que emocional.
- Você entende dessas coisas?
- Eu sou psicóloga. Vou marcar uma hora pra você.
Ela sacou o PDA da bolsa e sentenciou.
- Sexta às 16! Toma aqui meu cartão e o número do meu celular. Este é o do meu consultório e no verso vou anotar o telefone da minha casa. Ah, e pode ligar a qualquer hora...
Agora, eu tenho que voltar pro trabalho. Então, te espero na sexta?...
- Sem falta!
Respondeu já em tom perverso e com o olhar marejado de malícia.
- Posso sentar-me ao seu lado?
Ela consentiu com um desinteressado chacoalhar de ombros e começou a enxugar as lágrimas.
- Eu nunca chorei.
Ela reagiu num lampejo.
- Impossível!
- Nunca mesmo, de verdade...
- Quer dizer que você nunca teve o coração partido, um ente querido perdido, um surto de raiva, depressão, desilusão?
- Já! Mas nem por isso chorei.
- Tem alguma coisa errada aí, como pode?! Essa história de que homem não chora é uma tremenda besteira. O meu ex, por exemplo, virava e mexia chorava: de tristeza, de alegria, de emoção, de raiva.
- Por isso que é ex...
- Não, não é por isso! Mas deixa pra lá... Fale de você, isso deve ter uma razão muito séria.
- O quê? O fato de eu nunca ter chorado?!
- É lógico! Deve ser algum problema glandular, você precisa ir ao endocrinologista.
- Endóqui... O quê?
- O médico especialista em cuidar das glândulas.
- Ná-nãni-ná-não, na minha família quem vai ao médico logo depois pifa, sobe, desencarna!
- Deixa de bobagem, no mínimo isso acontece porque sempre deixam pra última hora.
- Aí, eu já não sei. Mas em médico eu não vou nem amarrado.
- E se eu te levar?
- Como assim?
- Se eu marcar horário em um endócrino, que é muito amigo meu, e levar você até lá... Topa fazer uma consulta?
- Você faria isso por mim, um mero desconhecido?
- Faria!
- Jura?!
- Eu marco o dia, a hora, te ligo e a gente combina. Vou levar você ao doutor Matheus.
- Acho que antes eu tenho que te contar uma coisa.
- Diz, me conta para eu poder te ajudar.
- É que eu... Eu já chorei muito uma vez. Foi quando me abandonaram. Eu era pequeno e chorei tanto, tanto que minhas lágrimas acho que secaram.
- Isso é clinicamente impossível! O que aconteceu é que você bloqueou suas emoções. É comum em casos agudos, quando a pessoa passa por um sofrimento muito forte sem que esteja emocionalmente madura. O psicológico não segura a onda e,
mais tarde, o trauma se manifesta fisicamente, como se fosse uma ferida, só que emocional.
- Você entende dessas coisas?
- Eu sou psicóloga. Vou marcar uma hora pra você.
Ela sacou o PDA da bolsa e sentenciou.
- Sexta às 16! Toma aqui meu cartão e o número do meu celular. Este é o do meu consultório e no verso vou anotar o telefone da minha casa. Ah, e pode ligar a qualquer hora...
Agora, eu tenho que voltar pro trabalho. Então, te espero na sexta?...
- Sem falta!
Respondeu já em tom perverso e com o olhar marejado de malícia.