Éramos Nós.
Nós que nos achávamos meio artistas e éramos metidos a intelectuais gostávamos muito da vida. Queríamos abraçá-la, desejávamos dela o melhor, queríamos vê-la sempre com bons olhos e nos esforçávamos ao máximo para ver de tudo, e de todos, apenas o lado bom.
Buscávamos desenterrar as flores soterradas por bombas lançadas contra nossas liberdades por uma direita ultraconservadora. Tentávamos, de todas as formas, salvar o homem da indiferença que o envolvia traiçoeiramente.
Nós que nos achávamos meio intelectuais e éramos metidos a artistas esperávamos muito uns dos outros. Pregávamos que a civilização precisava ser repensada, que só o humanismo podia salvar o ser humano dele mesmo e que este carecia, e segue a sentir falta, de uma vasta reforma em suas normas e seus valores, de uma revolução silenciosa, feita de consciência, verdade e palavras bem postas, tudo regido pela nobreza da humildade, da plena consciência de toda a incapacidade e incompetência que se manifesta em várias formas e em diversos sentidos. Humildade que deveria ser básica à condição humana, mas, infelizmente, é uma raridade nos dias de hoje.
Nós que nos achávamos meio artistas e éramos metidos a intelectuais falávamos muito e pouco agíamos. Tínhamos um discurso muito bem articulado, intenções castas e uma representação para lá de festiva. Fazíamos farra, abraçávamos e bebíamos a quantas causas aparecessem. Não fazia falta que fossem bonitas ou nobres, bastava que fossem simpáticas.
Gozávamos da fé que só a ingenuidade das boas intenções é capaz de despertar e era ela que, de alguma maneira, nos permitia experimentar alguns gramas de felicidade.
Nós que nos achávamos meio intelectuais e éramos metidos a artistas acreditávamos que poderíamos sobreviver honestamente, sem que fosse necessário vender a mente ou o corpo, nossa verdadeira e única moradia quando somos meio assim, meio assados.
Nós que éramos metidos e nos achávamos, demos de cara com o muro, com uma realidade dura e que se apresenta, dia a dia, cada vez mais contrária a tudo aquilo o que, juntos, imaginávamos.
A simpática aldeia global virou uma impessoal e infesta rede mundial de computadores. A ficção superou a vida real e impôs um ponto final à nossa história.
Muita gente sente saudade dos tempos em que éramos
assim... Diferentes! Outros acham que foi uma época divertida, mas passageira. E ainda há quem se envergonhe de um dia ter
sentido-se livre e capaz de mandar em seu próprio destino, de ter tido a certeza de que a boa vontade, unida à sinceridade, era uma força capaz de nos libertar da arrogância e dos grilhões institucionais. São esses que hoje servem cegamente ao estabelecido e arrastam as pesadas correntes da desilusão.
Entre aqueles que ainda são meio idealistas, meio pretensiosos, vive uma pergunta que, como tantas outras, não quer calar:
será que nós também já éramos?
Buscávamos desenterrar as flores soterradas por bombas lançadas contra nossas liberdades por uma direita ultraconservadora. Tentávamos, de todas as formas, salvar o homem da indiferença que o envolvia traiçoeiramente.
Nós que nos achávamos meio intelectuais e éramos metidos a artistas esperávamos muito uns dos outros. Pregávamos que a civilização precisava ser repensada, que só o humanismo podia salvar o ser humano dele mesmo e que este carecia, e segue a sentir falta, de uma vasta reforma em suas normas e seus valores, de uma revolução silenciosa, feita de consciência, verdade e palavras bem postas, tudo regido pela nobreza da humildade, da plena consciência de toda a incapacidade e incompetência que se manifesta em várias formas e em diversos sentidos. Humildade que deveria ser básica à condição humana, mas, infelizmente, é uma raridade nos dias de hoje.
Nós que nos achávamos meio artistas e éramos metidos a intelectuais falávamos muito e pouco agíamos. Tínhamos um discurso muito bem articulado, intenções castas e uma representação para lá de festiva. Fazíamos farra, abraçávamos e bebíamos a quantas causas aparecessem. Não fazia falta que fossem bonitas ou nobres, bastava que fossem simpáticas.
Gozávamos da fé que só a ingenuidade das boas intenções é capaz de despertar e era ela que, de alguma maneira, nos permitia experimentar alguns gramas de felicidade.
Nós que nos achávamos meio intelectuais e éramos metidos a artistas acreditávamos que poderíamos sobreviver honestamente, sem que fosse necessário vender a mente ou o corpo, nossa verdadeira e única moradia quando somos meio assim, meio assados.
Nós que éramos metidos e nos achávamos, demos de cara com o muro, com uma realidade dura e que se apresenta, dia a dia, cada vez mais contrária a tudo aquilo o que, juntos, imaginávamos.
A simpática aldeia global virou uma impessoal e infesta rede mundial de computadores. A ficção superou a vida real e impôs um ponto final à nossa história.
Muita gente sente saudade dos tempos em que éramos
assim... Diferentes! Outros acham que foi uma época divertida, mas passageira. E ainda há quem se envergonhe de um dia ter
sentido-se livre e capaz de mandar em seu próprio destino, de ter tido a certeza de que a boa vontade, unida à sinceridade, era uma força capaz de nos libertar da arrogância e dos grilhões institucionais. São esses que hoje servem cegamente ao estabelecido e arrastam as pesadas correntes da desilusão.
Entre aqueles que ainda são meio idealistas, meio pretensiosos, vive uma pergunta que, como tantas outras, não quer calar:
será que nós também já éramos?