Blog do Lulu 2.0

Tuesday, November 06, 2007

iGeneration.

Em um futuro não tão, tão distante, os pais dela, depois de uma longa e meticulosa pesquisa nos mais confiáveis e renomados sites de relacionamento, o escolheram.
Ele recebeu o e-mail solicitando sua presença na sala de bate-papo em que foi marcado o encontro. Ali os dois conversaram, ou melhor, teclaram pessoalmente pela primeira vez. A conversa rolou por horas e ali mesmo eles decidiram se casar.
Trocaram fotos verdadeiras e sem retoques de photoshop, o que em tempos modernos é prova de extrema confiança e sinaliza compromisso, papel que antigamente era de um par de alianças feitas de um metal qualquer.
Colocaram no ar um site para divulgar o acontecimento, a união. No endereço havia um pouco de tudo: fotos do casal, montagens muito bem feitas, já que eles ainda não haviam estado juntos, lista de presentes, endereço da igreja, da festa, a senha dos convites, tudo como manda o figurino e a mais nova e atualizada versão da ordem mundial.
A cerimônia aconteceu em um espaço ecumênico virtual e a recepção em um superbadalado site de festas e eventos.
Os dois finalmente se vêem. Enfim, estão a sós, cara a cara, olhos nos olhos. A surpresa não foi grande. As fotos que trocaram como prova de intenções eram mesmo de verdade. A decepção ficou por conta da estatura. Ela jamais imaginou ser tão mais alta do que ele, mas tudo bem... Poderia ser pior!
Eis que chega a tão ansiada noite de núpcias e as coisas se complicam. Um de costas para o outro, o casal despiu-se lentamente. Combinaram que a nudez de um e de outro seria revelada ao mesmo tempo. Em um movimento rápido, preciso e sincronizado, viraram e ficaram frente a frente.
Ele:- E agora?!
Ela:- Minha mãe falou que não tem segredo. Transar é hoje como era ser mãe na época dela: intuitivo! É como mexer em computadores, lidar com alta tecnologia... Ela disse que são coisas que nós, mulheres, já nascemos sabendo.
Ele:- Já nós, os homens, nascemos preparados para enfrentar e vencer grandes desafios como... Como... Por exemplo...
Ela:- Mamãe disse que é só apertar um botãozinho. É como se fosse a tecla Enter, é ele que faz tudo acontecer... Todas aquelas coisas que a gente andou baixando e vendo na internet!
Ele:- Mas que tecla Enter? Do que você tá falando?
Ela:- Do botãozinho... Ela disse que você ia chamar de cli-cli-alguma coisa... Deixa eu te mostrar: é aqui, ó! Tá vendo?
Ele:- Vou apertar... Apertei! E aí: o que você sentiu?
Ela:- Nada!
Ele:- Como nada? Isso nunca me aconteceu antes!
Ela:- Calma! Acho que você tem que apertar e segurar alguns segundos, que nem a gente faz para desligar o iPod, o iPhone, sabe?! Só que aqui liga.
Ele:- E dá certo? É tipo assim... Um Restart?
Ela:- Ora, sei lá, acho que é!
Ele:- Então, se concentra e vamos tentar de novo.
Ela:- Isso, assim... Aí mesmo, agora aperta e segura... Mais um pouquinho... Tenta o Double Click! Isso... Vai... Dá dois cliques e arrasta, dois cliques e arrasta, dois cliques e... Parou por quê?
Ele:- Não sei! E aí, sentiu alguma coisa?
Ela:- Não sei... Acho que não!
Ele:- Tem certeza de que não é problema de sistema?
Ela:- Só se for no seu querido. Só se for o seu sistema que tá falhando! Eu conversei de sexo com a mamãe e fui ao médico antes de me casar.
Ele:- Desculpa, meu amor! É que eu tô assim, sabe... Meio nervoso... Vem aqui, vamos tentar mais uma vez, com calma, desde o começo. Mostra o botãozinho de novo, mostra.
Ela:- Agora não vai dar... Travei!