Curto & Grosso.
- O quê?
- O café! Pede um café curto, a conta e vamos embora.
- Eu? Eu não... Isso é coisa de homem, Rodolfo!
- Pô, não enrola vai... Eu vou ficar aqui com o braço levantado horas, parecendo um menino pedindo para ir ao banheiro, o garçom vai fingir que não me vê. Eu vou acabar irritado, vai dar encrenca, não vou querer pagar porcaria de dez por cento para ninguém... Você sabe como é que funciona... Por favor, não complica, levanta o braço, dá um sorrisinho, que o cara vem correndo.
- Amore, você tá com medo de se sentir rejeitado?! Não fica assim, não... Não pode! Rodolfo, você tem que fazer alguma coisa, tem que superar isso, reagir... Voltar para terapia ia te fazer tão bem.
- Cássia, esse papo de novo não! Por favor, uma vez na vida, faz o que eu tô pedindo sem discutir nem reclamar: pelo amor de Deus, pede o café e a conta.
- Ôh amore, a gente não pode generalizar, não é só porque o seu sócio resolveu se separar e vocês quase faliram e porque minha irmã mais velha resolveu montar uma banda cover do Village People; não é só por causa disso que terapia não resolve, não presta... É que coincidiu. Verdade que foram próximas e terríveis, mas meras coincidências! Eu por exemplo: estou ótima! E a mamãe, então... Você viu como ela melhorou? E olha que o papai se mandou com a mulher do psiquiatra dela!
- Garçom, por favor: um café curto e a conta!
- Rodolfo, o que é isso? Fala baixo… Tá todo mundo olhando!
- Todo mundo menos o infeliz do garçom.
Falou e começou a adejar os braços como o náufrago que tenta chamar a atenção da nau distante.
- Garçom, eu, olha aqui, ó… Olhou heim?! Finalmente… Então, o café e a conta… Café curto, por favor… E rápido! Expresso, sabe qual é? Aquele que sai rapidinho...
- Rodolfff...
- Eu te avisei!