Roda Viva.
Aquele decoroso e respeitável senhor grisalho deveria saber. Naquela rua inteira só tinha a casa dele. Deveria ser dele a casa, já que era ele quem regava o jardim e cuidava das flores quando, de repente, o outro perguntou:
- Por favor, onde fica a saída?
- Mais um.
- Mais um o quê, meu Senhor?!
- Pela enésima vez, lamento informar, mas daqui não há saída.
- Como não?! Uma vez que eu entrei, posso sair. A volta é a conseqüência inexorável da ida, nem que seja pelo mesmo caminho.
- É exatamente aí onde todo mundo que vem parar aqui se engana. Não é só porque há uma entrada que existe uma saída. Oxalá! Fosse assim e uns 99,9 por cento dos problemas dos cidadãos que habitam a face da terra estariam resolvidos. Bom seria se tudo na vida seguisse essa lógica humanamente compreensível, simples e primária. Acho que, assim fosse, quase tudo em suas vidas patéticas estaria resolvido. Não haveriam guerras, confrontos raciais e religiosos, crimes nem miséria. Obviamente surgiria um ou outro espírito de porco para atrapalhar, mas por essa lógica humanitária, logo um heróico justiceiro daria cabo do estraga prazeres. Pois ainda, de acordo com esse raciocínio ingênuo e infantil, o justiceiro é aquele que faz justiça, e não o caboclo faminto que mata a troco de um punhado de réis e um prato de comida quente; que fique claro e entendido.
- Não precisava fazer todo este discurso, era só falar que não sabia onde era a saída. Mas afinal, quem é o senhor?
- Alguém que já esteve em seu lugar, procurando por uma saída, uma qualquer desde que levasse a outro lugar, qualquer outro lugar.
- Que conversa mais sem pé nem cabeça, quer saber de uma coisa, vou embora daqui, muito obrigado.
- Hei! Não é para esse lado, não. É para lá.
- E onde é para lá?
- Para o outro lado. Você veio daquela direção, então, deve seguir para lá. É lógico, simples e, como você mesmo disse, inexorável, meu caro.
- Então é por isso que o senhor nunca mais saiu daqui. Vou pelo mesmo lado que vim. Logo, irei parar no mesmo lugar em que cheguei. É lógico, pescou?
Ele andou, andou e andou muito. Muito mais do que achava que fosse capaz de andar, até que encontrou um velho. Tamanho era o cansaço, que só depois de algum tempo se deu conta de que era o mesmo senhor de antes, de que estava no mesmo lugar, diante do mesmo jardim e da mesma cerca de madeira pintada caprichosamente de branco.
- O que você está fazendo aqui?
- Já faz tanto tempo que eu não me lembro mais.
- E eu? Como vim parar aqui outra vez?
- Andando em círculos.
- Como assim?! Não pode ser?! Eu cheguei por ali e saí por ali. Não posso estar de novo aqui. Vou por lá e em linha reta.
- Até já.
- Escuta aqui, eu vou embora daqui e nunca mais vou voltar, entendeu? Seu, seu maluco! Fica aí com suas plantinhas, doidão.
- Fosse eu, economizava energia, não que você vá precisar, mas é sempre bom.
- Ôh tio, antes de eu ir, me diz uma coisa, quem é o senhor?
- Eu já disse, já falei: alguém que esteve como você, desesperado, procurando por uma saída, qualquer uma.
- Entendi! É uma dica! Um jogo! Deixa eu pensar… Uma saída de emergência. É isso, tem que haver uma saída de emergência.
- Lá vai ele de novo.
- Por favor, onde fica a saída?
- Mais um.
- Mais um o quê, meu Senhor?!
- Pela enésima vez, lamento informar, mas daqui não há saída.
- Como não?! Uma vez que eu entrei, posso sair. A volta é a conseqüência inexorável da ida, nem que seja pelo mesmo caminho.
- É exatamente aí onde todo mundo que vem parar aqui se engana. Não é só porque há uma entrada que existe uma saída. Oxalá! Fosse assim e uns 99,9 por cento dos problemas dos cidadãos que habitam a face da terra estariam resolvidos. Bom seria se tudo na vida seguisse essa lógica humanamente compreensível, simples e primária. Acho que, assim fosse, quase tudo em suas vidas patéticas estaria resolvido. Não haveriam guerras, confrontos raciais e religiosos, crimes nem miséria. Obviamente surgiria um ou outro espírito de porco para atrapalhar, mas por essa lógica humanitária, logo um heróico justiceiro daria cabo do estraga prazeres. Pois ainda, de acordo com esse raciocínio ingênuo e infantil, o justiceiro é aquele que faz justiça, e não o caboclo faminto que mata a troco de um punhado de réis e um prato de comida quente; que fique claro e entendido.
- Não precisava fazer todo este discurso, era só falar que não sabia onde era a saída. Mas afinal, quem é o senhor?
- Alguém que já esteve em seu lugar, procurando por uma saída, uma qualquer desde que levasse a outro lugar, qualquer outro lugar.
- Que conversa mais sem pé nem cabeça, quer saber de uma coisa, vou embora daqui, muito obrigado.
- Hei! Não é para esse lado, não. É para lá.
- E onde é para lá?
- Para o outro lado. Você veio daquela direção, então, deve seguir para lá. É lógico, simples e, como você mesmo disse, inexorável, meu caro.
- Então é por isso que o senhor nunca mais saiu daqui. Vou pelo mesmo lado que vim. Logo, irei parar no mesmo lugar em que cheguei. É lógico, pescou?
Ele andou, andou e andou muito. Muito mais do que achava que fosse capaz de andar, até que encontrou um velho. Tamanho era o cansaço, que só depois de algum tempo se deu conta de que era o mesmo senhor de antes, de que estava no mesmo lugar, diante do mesmo jardim e da mesma cerca de madeira pintada caprichosamente de branco.
- O que você está fazendo aqui?
- Já faz tanto tempo que eu não me lembro mais.
- E eu? Como vim parar aqui outra vez?
- Andando em círculos.
- Como assim?! Não pode ser?! Eu cheguei por ali e saí por ali. Não posso estar de novo aqui. Vou por lá e em linha reta.
- Até já.
- Escuta aqui, eu vou embora daqui e nunca mais vou voltar, entendeu? Seu, seu maluco! Fica aí com suas plantinhas, doidão.
- Fosse eu, economizava energia, não que você vá precisar, mas é sempre bom.
- Ôh tio, antes de eu ir, me diz uma coisa, quem é o senhor?
- Eu já disse, já falei: alguém que esteve como você, desesperado, procurando por uma saída, qualquer uma.
- Entendi! É uma dica! Um jogo! Deixa eu pensar… Uma saída de emergência. É isso, tem que haver uma saída de emergência.
- Lá vai ele de novo.