Cultura Popular é isso aí.
Nunca se interessou, quis saber ou foi atrás. Sempre achou um atraso de vida essa história de futebol. Era contra qualquer festa, esporte, religião ou credo capaz de alienar, de anestesiar toda uma nação. Mas não tinha culpa se todo mundo só falava nisso, o tempo todo. Muito educado, prestava atenção enquanto nas reuniões e encontros, seus amigos conversavam, debatiam, discutiam e, às vezes, até brigavam. Assim os acontecimentos, nomes, datas e placares ficavam registrados em sua memória privilegiada.
Por isso, e só por isso, sabia que o primeiro gol brasileiro em uma Copa do Mundo foi marcado por João Coelho Neto, o Preguinho, em 1930, na Copa do Uruguai. Sabia também que Leônidas da Silva, o Diamante Negro, no Mundial de 38, na França, marcou um gol descalço, ou melhor, de meião. E valeu! Naquela época, chuteira não dava bolha. Estourava e deixava o caboclo de pé descalço no meio do gramado.
Ópio do povo, circo de alienados, quer vê-lo irritado? Fale que o Brasil é o país do futebol. Pronto, o homem vira bicho. Para ele, este é o país da terra, das belezas e riquezas naturais. Vinte e dois marmanjos correndo feito uns desesperados, trombando e se batendo atrás de uma bola, isso é sinal de mentalidade subdesenvolvida. Tudo bem que no futebol americano o pessoal quase se mata e não é raro um ou outro acabar a temporada em cadeira de rodas. Mas já reparou nas roupas que eles usam? Coisa de gente civilizada.
Conhece quase, senão todos, os times de futebol existentes do lado de baixo do Equador por falta de opção. Tem que conhecer, infelizmente, faz parte da história do país onde nasceu e mora. Saber que Zé Horta e Mosquito, a dupla de ataque do América de Belo Horizonte dos anos 50, era comparada à Pelé e Coutinho, não é um simples detalhe. Assim como, escarafunchar a história de Gilberto Nenêga, atacante do Nacional da Serra, canhoto e de pernas tortas, que diziam ser anterior a Garrincha, é quase um trabalho de pesquisa antropológica. Ainda que o futebol, na opinião dele, é, senão a maior, uma das grandes mazelas da nação.
Para ele, a Copa de 70, no México, é o ápice de todo esse absurdo. Como podem falar dessa Seleção e desse tal Tricampeonato até hoje? Só sofreu, se emocionou, chorou e comemorou forçado pelas circunstâncias. Quebrasse a corrente para frente para ver, podia ser tachado de comunista, preso e sabia ele mais o quê. Torceu por pura obrigação cívica.
Ouse falar em paixão nacional e o homem fica louco, indignado. Como Pelé, Falcão, Zico, Romário e os Ronaldos podem ser mais conhecidos, aqui e lá fora, do que José Américo de Almeida, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos e o pintor Sacilotto? Isso não lhe entra na cabeça.
As únicas coisas que consegue recitar são as escalações de todas as Seleções Brasileiras e das equipes que disputam as séries A, B, C e D do Brasileirão. Mesmo assim, não se conforma com o esquecimento em que caíram os autores clássicos, os pais tupiniquins das nobres artes.
Atreva-se a falar em futebol-arte para ver, o homem chega a uivar. Até hoje, odeia Paolo Rossi com todas as forças e guarda imensa admiração pela figura de Telê Santana, o técnico da seleção dos sonhos, aquela de 82, na Espanha. Mas nem por isso aceita que o ato de jogar bola seja encarado como manifestação artística. O Carnaval ainda vá lá.
Na Copa de 94, não torceu pela Seleção Brasileira e sim contra o imperialismo e a dominação econômica exercida pelos americanos. Sofreu, chorou e comemorou por uma questão ideológica. Vencer dentro dos EUA foi triunfar sobre as imposições e exigências do FMI. Ele podia comemorar porque não se deixava alienar. Já os outros, pareciam um bando de macacos atrás da única bananeira sobrevivente na face da terra.
A Copa da França, em 98, ele bloqueou de sua mente. Maria Antonieta, Napoleão, Alain Prost, François Mitterrand, definitivamente, ele não gosta dos franceses.
Em 2002, acompanhou o Mundial Coréia/Japão para prestigiar os asiáticos. Tem muitos amigos que aderiram ao budismo e ele mesmo busca na milenar filosofia oriental respostas para vários de seus dilemas pessoais.
Nas reuniões e encontros de família, ouvindo os papos, conversas, debates e discussões dos mais velhos, conheceu os enredos de Saramandaia, O Bem-Amado e Roque Santeiro, acompanhou a vida de Salomão Ayala e descobriu quem matou Odete Roittman. Para ele, só existe uma coisa mais alienante, nefasta e brasileira do que o futebol: a novela.
Por isso, e só por isso, sabia que o primeiro gol brasileiro em uma Copa do Mundo foi marcado por João Coelho Neto, o Preguinho, em 1930, na Copa do Uruguai. Sabia também que Leônidas da Silva, o Diamante Negro, no Mundial de 38, na França, marcou um gol descalço, ou melhor, de meião. E valeu! Naquela época, chuteira não dava bolha. Estourava e deixava o caboclo de pé descalço no meio do gramado.
Ópio do povo, circo de alienados, quer vê-lo irritado? Fale que o Brasil é o país do futebol. Pronto, o homem vira bicho. Para ele, este é o país da terra, das belezas e riquezas naturais. Vinte e dois marmanjos correndo feito uns desesperados, trombando e se batendo atrás de uma bola, isso é sinal de mentalidade subdesenvolvida. Tudo bem que no futebol americano o pessoal quase se mata e não é raro um ou outro acabar a temporada em cadeira de rodas. Mas já reparou nas roupas que eles usam? Coisa de gente civilizada.
Conhece quase, senão todos, os times de futebol existentes do lado de baixo do Equador por falta de opção. Tem que conhecer, infelizmente, faz parte da história do país onde nasceu e mora. Saber que Zé Horta e Mosquito, a dupla de ataque do América de Belo Horizonte dos anos 50, era comparada à Pelé e Coutinho, não é um simples detalhe. Assim como, escarafunchar a história de Gilberto Nenêga, atacante do Nacional da Serra, canhoto e de pernas tortas, que diziam ser anterior a Garrincha, é quase um trabalho de pesquisa antropológica. Ainda que o futebol, na opinião dele, é, senão a maior, uma das grandes mazelas da nação.
Para ele, a Copa de 70, no México, é o ápice de todo esse absurdo. Como podem falar dessa Seleção e desse tal Tricampeonato até hoje? Só sofreu, se emocionou, chorou e comemorou forçado pelas circunstâncias. Quebrasse a corrente para frente para ver, podia ser tachado de comunista, preso e sabia ele mais o quê. Torceu por pura obrigação cívica.
Ouse falar em paixão nacional e o homem fica louco, indignado. Como Pelé, Falcão, Zico, Romário e os Ronaldos podem ser mais conhecidos, aqui e lá fora, do que José Américo de Almeida, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos e o pintor Sacilotto? Isso não lhe entra na cabeça.
As únicas coisas que consegue recitar são as escalações de todas as Seleções Brasileiras e das equipes que disputam as séries A, B, C e D do Brasileirão. Mesmo assim, não se conforma com o esquecimento em que caíram os autores clássicos, os pais tupiniquins das nobres artes.
Atreva-se a falar em futebol-arte para ver, o homem chega a uivar. Até hoje, odeia Paolo Rossi com todas as forças e guarda imensa admiração pela figura de Telê Santana, o técnico da seleção dos sonhos, aquela de 82, na Espanha. Mas nem por isso aceita que o ato de jogar bola seja encarado como manifestação artística. O Carnaval ainda vá lá.
Na Copa de 94, não torceu pela Seleção Brasileira e sim contra o imperialismo e a dominação econômica exercida pelos americanos. Sofreu, chorou e comemorou por uma questão ideológica. Vencer dentro dos EUA foi triunfar sobre as imposições e exigências do FMI. Ele podia comemorar porque não se deixava alienar. Já os outros, pareciam um bando de macacos atrás da única bananeira sobrevivente na face da terra.
A Copa da França, em 98, ele bloqueou de sua mente. Maria Antonieta, Napoleão, Alain Prost, François Mitterrand, definitivamente, ele não gosta dos franceses.
Em 2002, acompanhou o Mundial Coréia/Japão para prestigiar os asiáticos. Tem muitos amigos que aderiram ao budismo e ele mesmo busca na milenar filosofia oriental respostas para vários de seus dilemas pessoais.
Nas reuniões e encontros de família, ouvindo os papos, conversas, debates e discussões dos mais velhos, conheceu os enredos de Saramandaia, O Bem-Amado e Roque Santeiro, acompanhou a vida de Salomão Ayala e descobriu quem matou Odete Roittman. Para ele, só existe uma coisa mais alienante, nefasta e brasileira do que o futebol: a novela.