Otacílio encontra Darwin.
Já não tinha mais palavras para nada. O menino falador e brincalhão deu lugar a um sujeito quieto e encafifado. Cursava o Estadual quando a professora de Ciências apresentou à classe Charles Darwin, que diz em sua teoria o que muito cientista defende até hoje, que nós, os seres humanos, somos descendentes diretos dos macacos.
Indicou para leitura o livro, A Origem das Espécies Através da Seleção Natural, e avisou que era matéria de prova.
Rapaz, a tal deriva genética deu um nó na cabeça do pobre do menino. Acreditar em macro evolução era negar todo o resto. Até aquele dia, para ele, Deus era quem tinha feito tudo, criado o homem, a terra e o céu.
Aceitar que ele era simplesmente a evolução do macaco era negar tudo o que sua avó e sua mãe lhe diziam e ensinavam. Aquilo o encucou de verdade.
Cedo demais trocou a preocupação de manter em dia seu estoque de gomas de mascar e balas de hortelã pelo paradoxo da criação: religião versus biologia.
Toda vez que ia à igreja, passava a acreditar mais em Deus do que naquele cientista maluco. O que mudava a cada visita ao zoológico. Diante do viveiro dos macacos se punha a pensar na tal teoria. Era inevitável. Um dia imaginou que Zé, de José, poderia ser uma evolução de chipanzé. Essa história estava fundindo a cuca de Otacílio.
Já crescido, não terminou o colégio e teve que começar a trabalhar. A pressão, o estresse, a rotina, a condução lotada, o trânsito parado, tudo isso não tinha nada a ver com evolução na opinião dele e do tal de Darwin.
Otacílio não estudou tanto quanto gostaria, mas de burro não tinha nada, porém, de macaco ele começava a achar que tinha alguma coisa. Quando era criança, vivia trepando em árvores, chegava da escola e sua mãe passava horas futucando sua cabeça, procurando piolhos.
Será que os macacos lá do estrangeiro são loiros e têm olhos claros? E os lá da Ásia então, será que têm olhos puxados e preferem peixe cru em vez de banana? – pensava com ele.
Foi ver o longa-metragem feito a partir do seriado que assistia com seu irmão mais velho, O Planeta dos Macacos. Saiu no meio. Aqueles macacos eram muito humanos e aqueles humanos muito macacos. Maquiagem! Era tudo maquiagem, truque, ficção.
Mudou para o interior em busca de sossego e qualidade de vida.
Por curiosidade, instinto e pura falta do que fazer, não demorou a se embrenhar na mata.
Encontrou uma família de primatas com a qual começou a se comunicar através de mímica. Otacílio passou a visitá-los frequentemente. Com o tempo, começaram a se entender.
A mais velha entre as fêmeas apresentou-o ao resto do grupo. A macaca contou como tudo ali funcionava, a organização social e política da comunidade e o que para eles significava liberdade. Deixou claro que ali havia uma hierarquia, que o grupo tinha um líder ao qual todos seguiam e também explicou, tim-tim por tim-tim, como se organizavam as famílias, formadas por um macho e várias fêmeas.
Jovem e impetuoso, Otacílio foi viver no mato com seus ancestrais. Tentou se adaptar. O diálogo evoluía com a convivência. No começo, tudo ia bem. Fez amizades, ajudava nas tarefas e participava das brincadeiras.
Ao tentar formar sua própria família, Otacílio trocou os pés pelas mãos. Achou que ali, entre eles, aquilo era mais do que normal. A parte que mais o fascinou foi a que ele não entendeu.
Aconselhado pelo líder, voltou à cidade. Era muito humano para viver em um ambiente tão civilizado. O lugar dele era mesmo na selva, mas na de pedra.
Com o passar do tempo, Otacílio se convenceu que a Teoria da Evolução era um tremendo atraso de vida, pelo menos para ele.
Arrumou um novo emprego, se matriculou em um curso supletivo e passou a ser assombrado, na prática, por outro estudo especulativo. Esse bem mais recente, elaborado por físicos e matemáticos, a Teoria do Caos.
Indicou para leitura o livro, A Origem das Espécies Através da Seleção Natural, e avisou que era matéria de prova.
Rapaz, a tal deriva genética deu um nó na cabeça do pobre do menino. Acreditar em macro evolução era negar todo o resto. Até aquele dia, para ele, Deus era quem tinha feito tudo, criado o homem, a terra e o céu.
Aceitar que ele era simplesmente a evolução do macaco era negar tudo o que sua avó e sua mãe lhe diziam e ensinavam. Aquilo o encucou de verdade.
Cedo demais trocou a preocupação de manter em dia seu estoque de gomas de mascar e balas de hortelã pelo paradoxo da criação: religião versus biologia.
Toda vez que ia à igreja, passava a acreditar mais em Deus do que naquele cientista maluco. O que mudava a cada visita ao zoológico. Diante do viveiro dos macacos se punha a pensar na tal teoria. Era inevitável. Um dia imaginou que Zé, de José, poderia ser uma evolução de chipanzé. Essa história estava fundindo a cuca de Otacílio.
Já crescido, não terminou o colégio e teve que começar a trabalhar. A pressão, o estresse, a rotina, a condução lotada, o trânsito parado, tudo isso não tinha nada a ver com evolução na opinião dele e do tal de Darwin.
Otacílio não estudou tanto quanto gostaria, mas de burro não tinha nada, porém, de macaco ele começava a achar que tinha alguma coisa. Quando era criança, vivia trepando em árvores, chegava da escola e sua mãe passava horas futucando sua cabeça, procurando piolhos.
Será que os macacos lá do estrangeiro são loiros e têm olhos claros? E os lá da Ásia então, será que têm olhos puxados e preferem peixe cru em vez de banana? – pensava com ele.
Foi ver o longa-metragem feito a partir do seriado que assistia com seu irmão mais velho, O Planeta dos Macacos. Saiu no meio. Aqueles macacos eram muito humanos e aqueles humanos muito macacos. Maquiagem! Era tudo maquiagem, truque, ficção.
Mudou para o interior em busca de sossego e qualidade de vida.
Por curiosidade, instinto e pura falta do que fazer, não demorou a se embrenhar na mata.
Encontrou uma família de primatas com a qual começou a se comunicar através de mímica. Otacílio passou a visitá-los frequentemente. Com o tempo, começaram a se entender.
A mais velha entre as fêmeas apresentou-o ao resto do grupo. A macaca contou como tudo ali funcionava, a organização social e política da comunidade e o que para eles significava liberdade. Deixou claro que ali havia uma hierarquia, que o grupo tinha um líder ao qual todos seguiam e também explicou, tim-tim por tim-tim, como se organizavam as famílias, formadas por um macho e várias fêmeas.
Jovem e impetuoso, Otacílio foi viver no mato com seus ancestrais. Tentou se adaptar. O diálogo evoluía com a convivência. No começo, tudo ia bem. Fez amizades, ajudava nas tarefas e participava das brincadeiras.
Ao tentar formar sua própria família, Otacílio trocou os pés pelas mãos. Achou que ali, entre eles, aquilo era mais do que normal. A parte que mais o fascinou foi a que ele não entendeu.
Aconselhado pelo líder, voltou à cidade. Era muito humano para viver em um ambiente tão civilizado. O lugar dele era mesmo na selva, mas na de pedra.
Com o passar do tempo, Otacílio se convenceu que a Teoria da Evolução era um tremendo atraso de vida, pelo menos para ele.
Arrumou um novo emprego, se matriculou em um curso supletivo e passou a ser assombrado, na prática, por outro estudo especulativo. Esse bem mais recente, elaborado por físicos e matemáticos, a Teoria do Caos.