O homem que não sabe mandar flores.
Aquela era sempre a hora mais difícil. Geraldo nunca foi um grande paquerador. Para se dar bem, invariavelmente, estivesse a lei da oferta e da procura como estivesse, ele tinha que investir tempo, papo e dinheiro. Homem bom de conversa, acabava divertindo a moça. Uma conquista nunca lhe custava menos do que cinema, jantar e no dia seguinte, um belo arranjo de flores.
Até aí tudo bem. É freguês da floricultura Mundo Flora. Negócio de família que Elisângela herdou há muitos anos, quando Geraldo era apenas uma criança e ela, a jovem e bela Liz.
Hoje, dona Liz é uma senhora muito simpática, prestativa e mãe de nove filhas. Conhece tudo quanto é tipo de mulher, o que sempre foi muito interessante para ele. A tia é um poço de conhecimento. Ele conversava, falava um pouco da moça da vez e dona Liz se apressava em sugerir algo que a fulana iria amar de paixão, era infalível. Gastava uns trocados e pronto.
O problema era o cartão. Nessa hora, ele sempre lembrava da frase que um homem famoso falou numa palestra da firma:
“O cartão é mais importante do que as flores”
Desde aí, toda vez que se vê diante de um maldito papelzinho em branco, entra em pânico. Num gesto de bravura e coragem, Geraldo resolveu tentar mais uma vez. Queria colocar ali alguma coisa diferente, sensível, capaz de preparar o clima. Aquele pedaço de mulher merecia algo especial. Pensou em ser bem romântico:
“Se te quero, e como te quero,
em nome do amor e da arte,
capaz de me levar a qualquer parte”
Achou meio bobo, meio brega. Soava como refrão daquelas canções de festivais estudantis. Tentou pensar em algo mais casual, que refletisse uma personalidade jovial e despojada:
“A saudade de ter sem nunca ter tido
A vontade de dizer o que nunca foi dito”
Também não gostou. Achou distante para a ocasião, meio existencialista, em voz alta, soou até triste. Decidiu tentar algo passional, à la latin lover assumido:
“Deixar prender-me quando tudo o que quero é poder render-me,
livrar-me quando tudo o que quero é ser levado”
Rasgou e atirou no lixo. Aquilo não era um cartão, mais parecia fala de novela mexicana. Ele pelejou contra a própria falta de habilidade, mas nada do que lhe vinha à cabeça parecia ser bom o suficiente. Foi então que apelou. Tentou copiar algo desses cartões prontos que se pode comprar em livrarias, bancas de jornal e camelôs. Consultou livros de poesias, de citações, tudo em busca de alguma inspiração, de algo para copiar e nada.
A insegurança, coisa normal nesta fase de seus relacionamentos, começava a se tornar incerteza. Os questionamentos faziam-lhe coçar o couro cabeludo. Quando isso acontecia, quando lhe atacava uma coceira tremenda no cucuruto, Geraldo já sabia, era neste momento que começava a desconfiar do próprio taco.
Ora, se não conseguia nem escrever uma baboseira, como faria na hora de convencer a moça? Se tremia e ficava nervoso diante de um papelucho em branco, o que aconteceria na hora dos finalmentes? Cansado daquele perrengue, resolveu fazer como sempre tinha feito. Acabou e começou o tal cartão do mesmo jeito, exatamente como fez tantas outras vezes:
“Acho que te amo. Quer me ajudar a tirar essa dúvida?”
Existia uma pequena variação para ser usada de acordo com a idade, o estilo, o perfil da moça e a sugestão da florista. Era mais ou menos assim:
“Acho que te amo. Vamos descobrir juntos?”.
Muita gente desdenhava, a grande maioria duvidava quando ele contava, mas dava certo mesmo, era a mais pura verdade. A resposta era quase sempre positiva e imediata. Principalmente quando o arranjo de flores era grande e o cartão bem pequeno, escrito em letras calcadas no papel pela força do nervosismo.
Funcionava porque esse era o verdadeiro Geraldo. Por trás daquela voz baixa e daquela expressão assustada, daquele jeito tímido e desajeitado, se escondia um homem e tanto, raridade nos dias de hoje. Isso era o que comentavam suas namoradas, primas, amigas íntimas, amigas fáceis.
O cara tem pegada. Sabe o que fazer com uma mulher nas mãos,
e com as mãos numa mulher - todas elas concordavam.
O mesmo mexericavam as amigas das amigas e as conhecidas das inimigas.
Geraldo é anterior ao metrossexualismo. Para ele, andrógeno é nome de hormônio e as mulheres são a melhor invenção do Homem.
Até aí tudo bem. É freguês da floricultura Mundo Flora. Negócio de família que Elisângela herdou há muitos anos, quando Geraldo era apenas uma criança e ela, a jovem e bela Liz.
Hoje, dona Liz é uma senhora muito simpática, prestativa e mãe de nove filhas. Conhece tudo quanto é tipo de mulher, o que sempre foi muito interessante para ele. A tia é um poço de conhecimento. Ele conversava, falava um pouco da moça da vez e dona Liz se apressava em sugerir algo que a fulana iria amar de paixão, era infalível. Gastava uns trocados e pronto.
O problema era o cartão. Nessa hora, ele sempre lembrava da frase que um homem famoso falou numa palestra da firma:
“O cartão é mais importante do que as flores”
Desde aí, toda vez que se vê diante de um maldito papelzinho em branco, entra em pânico. Num gesto de bravura e coragem, Geraldo resolveu tentar mais uma vez. Queria colocar ali alguma coisa diferente, sensível, capaz de preparar o clima. Aquele pedaço de mulher merecia algo especial. Pensou em ser bem romântico:
“Se te quero, e como te quero,
em nome do amor e da arte,
capaz de me levar a qualquer parte”
Achou meio bobo, meio brega. Soava como refrão daquelas canções de festivais estudantis. Tentou pensar em algo mais casual, que refletisse uma personalidade jovial e despojada:
“A saudade de ter sem nunca ter tido
A vontade de dizer o que nunca foi dito”
Também não gostou. Achou distante para a ocasião, meio existencialista, em voz alta, soou até triste. Decidiu tentar algo passional, à la latin lover assumido:
“Deixar prender-me quando tudo o que quero é poder render-me,
livrar-me quando tudo o que quero é ser levado”
Rasgou e atirou no lixo. Aquilo não era um cartão, mais parecia fala de novela mexicana. Ele pelejou contra a própria falta de habilidade, mas nada do que lhe vinha à cabeça parecia ser bom o suficiente. Foi então que apelou. Tentou copiar algo desses cartões prontos que se pode comprar em livrarias, bancas de jornal e camelôs. Consultou livros de poesias, de citações, tudo em busca de alguma inspiração, de algo para copiar e nada.
A insegurança, coisa normal nesta fase de seus relacionamentos, começava a se tornar incerteza. Os questionamentos faziam-lhe coçar o couro cabeludo. Quando isso acontecia, quando lhe atacava uma coceira tremenda no cucuruto, Geraldo já sabia, era neste momento que começava a desconfiar do próprio taco.
Ora, se não conseguia nem escrever uma baboseira, como faria na hora de convencer a moça? Se tremia e ficava nervoso diante de um papelucho em branco, o que aconteceria na hora dos finalmentes? Cansado daquele perrengue, resolveu fazer como sempre tinha feito. Acabou e começou o tal cartão do mesmo jeito, exatamente como fez tantas outras vezes:
“Acho que te amo. Quer me ajudar a tirar essa dúvida?”
Existia uma pequena variação para ser usada de acordo com a idade, o estilo, o perfil da moça e a sugestão da florista. Era mais ou menos assim:
“Acho que te amo. Vamos descobrir juntos?”.
Muita gente desdenhava, a grande maioria duvidava quando ele contava, mas dava certo mesmo, era a mais pura verdade. A resposta era quase sempre positiva e imediata. Principalmente quando o arranjo de flores era grande e o cartão bem pequeno, escrito em letras calcadas no papel pela força do nervosismo.
Funcionava porque esse era o verdadeiro Geraldo. Por trás daquela voz baixa e daquela expressão assustada, daquele jeito tímido e desajeitado, se escondia um homem e tanto, raridade nos dias de hoje. Isso era o que comentavam suas namoradas, primas, amigas íntimas, amigas fáceis.
O cara tem pegada. Sabe o que fazer com uma mulher nas mãos,
e com as mãos numa mulher - todas elas concordavam.
O mesmo mexericavam as amigas das amigas e as conhecidas das inimigas.
Geraldo é anterior ao metrossexualismo. Para ele, andrógeno é nome de hormônio e as mulheres são a melhor invenção do Homem.