A mulher, o marido e a bola.
Ronaldo se chama assim por motivos óbvios. O nome foi presente de seu pai. Já a desvairada paixão por futebol era coisa de família. Ele nunca teve talento ou jeito para ser jogador. Só ia a campo quando era dono da bola e mesmo assim ficava no gol.
Quando entrou na adolescência conheceu sua segunda paixão, sim, porque a primeira era a bola.
Ana Luiza, a menina mais bonita da escola, não era a mais cobiçada pelos meninos. Mas, para ele, era a mais bela.
Já Ronaldo era um sujeito comum. A falta de intimidade com a bola o diferenciava dos outros. Sendo assim, devotava à Ana Luiza toda a atenção que os outros meninos dedicavam a rua, ao campinho de terra e aos jogos disputados entre times escolhidos no par ou ímpar.
Ele então conheceu outro tipo de pelada. Nessa brincadeira, não se sentia nem um pouco rejeitado, muito pelo contrário. Os anos passaram, eles se casaram, tiveram filhos que cresceram e reavivaram em Ronaldo sua primeira paixão, a bola. Era um tal de levar os meninos à escola de futebol, da escolinha para o estádio e do estádio para frente da televisão. Afinal, os meninos tinham que assistir às mesas redondas para depois não falar bobagem.
Tentou, pelejou, mas não teve jeito, Ana Luiza não conseguiu pegar gosto pelo esporte. Procurou algo que preenchesse o vazio deixado pelos filhos que lhe roubaram o marido, e pelo marido que lhe tomara os filhos.
A coisa não era bem assim, mas assim ela sentia. Foi parar na cozinha. Passava horas, dias, semanas cozinhando e provando do próprio manjar.
Às vésperas de mais uma Copa do Mundo, os três enlouqueceram. Meses antes da Seleção ser convocada, eles começaram a preparação. Bandeiras, fitinhas em verde e amarelo, matracas, cornetas, bonés, camisetas e claro, bolões, vários, com as cores da Canarinho, voavam pela casa.
Aninha resolveu participar, se animou, fazia pratos que combinavam tons de verde e amarelo. Risoto de açafrão com suflê de legumes, arroz verde com frango e purê de mandioquinha, sorvete de pistache com calda de caramelo bem clarinha e, foi nesse dia, na hora da sobremesa, que ela se deu conta de que ninguém havia notado. Indignada, ali mesmo discursou. Discorreu sobre as dificuldades e a solitude de ser mulher, mãe, cozinheira, arrumadeira, dona de casa. Nem bem terminou de falar, o marido emendou: e bola.
Realmente Ana Luiza engordara um pouco. Ela sempre fora saborosa, cheinha, mas de tanto cozinhar tinha acumulado gordura nos lugares errados.
Enfurecida, se armou da calma que só as mulheres conseguem ter numa hora como essa, respirou, perguntou e respondeu, tudo de primeira.
Sabe quando eu vou emagrecer? Quando você voltar a jogar 90 minutos, disputar a prorrogação e ainda pedir para bater o último pênalti.
Ele engasgou, tossiu, o mais velho gargalhou e o mais novo enrubesceu.
Era ela ou ela. Naquela mesma noite, Ronaldo decidiu abandonar de vez a bola e ficar com a mulher.
Os filhos passaram a ir ao futebol acompanhados por um dos tios ou por outro parente mais velho.
Ana Luiza recuperou rapidamente a forma física e Ronaldo está jogando pelada como nunca.
Quando entrou na adolescência conheceu sua segunda paixão, sim, porque a primeira era a bola.
Ana Luiza, a menina mais bonita da escola, não era a mais cobiçada pelos meninos. Mas, para ele, era a mais bela.
Já Ronaldo era um sujeito comum. A falta de intimidade com a bola o diferenciava dos outros. Sendo assim, devotava à Ana Luiza toda a atenção que os outros meninos dedicavam a rua, ao campinho de terra e aos jogos disputados entre times escolhidos no par ou ímpar.
Ele então conheceu outro tipo de pelada. Nessa brincadeira, não se sentia nem um pouco rejeitado, muito pelo contrário. Os anos passaram, eles se casaram, tiveram filhos que cresceram e reavivaram em Ronaldo sua primeira paixão, a bola. Era um tal de levar os meninos à escola de futebol, da escolinha para o estádio e do estádio para frente da televisão. Afinal, os meninos tinham que assistir às mesas redondas para depois não falar bobagem.
Tentou, pelejou, mas não teve jeito, Ana Luiza não conseguiu pegar gosto pelo esporte. Procurou algo que preenchesse o vazio deixado pelos filhos que lhe roubaram o marido, e pelo marido que lhe tomara os filhos.
A coisa não era bem assim, mas assim ela sentia. Foi parar na cozinha. Passava horas, dias, semanas cozinhando e provando do próprio manjar.
Às vésperas de mais uma Copa do Mundo, os três enlouqueceram. Meses antes da Seleção ser convocada, eles começaram a preparação. Bandeiras, fitinhas em verde e amarelo, matracas, cornetas, bonés, camisetas e claro, bolões, vários, com as cores da Canarinho, voavam pela casa.
Aninha resolveu participar, se animou, fazia pratos que combinavam tons de verde e amarelo. Risoto de açafrão com suflê de legumes, arroz verde com frango e purê de mandioquinha, sorvete de pistache com calda de caramelo bem clarinha e, foi nesse dia, na hora da sobremesa, que ela se deu conta de que ninguém havia notado. Indignada, ali mesmo discursou. Discorreu sobre as dificuldades e a solitude de ser mulher, mãe, cozinheira, arrumadeira, dona de casa. Nem bem terminou de falar, o marido emendou: e bola.
Realmente Ana Luiza engordara um pouco. Ela sempre fora saborosa, cheinha, mas de tanto cozinhar tinha acumulado gordura nos lugares errados.
Enfurecida, se armou da calma que só as mulheres conseguem ter numa hora como essa, respirou, perguntou e respondeu, tudo de primeira.
Sabe quando eu vou emagrecer? Quando você voltar a jogar 90 minutos, disputar a prorrogação e ainda pedir para bater o último pênalti.
Ele engasgou, tossiu, o mais velho gargalhou e o mais novo enrubesceu.
Era ela ou ela. Naquela mesma noite, Ronaldo decidiu abandonar de vez a bola e ficar com a mulher.
Os filhos passaram a ir ao futebol acompanhados por um dos tios ou por outro parente mais velho.
Ana Luiza recuperou rapidamente a forma física e Ronaldo está jogando pelada como nunca.