Blog do Lulu 2.0

Sunday, September 30, 2007

E o tempo parou.

Ao descobrir que toda aquela quentura, aqueles calorões repentinos e todos os outros sintomas que vinha apresentando, entre eles, náuseas, ataques injustificáveis de raiva, insônia, ao constatar que nada acontecia em virtude da idade que avançava nem em função do climatério, que tem nome de catástrofe. E sim por causa dos descuidos, desmandos e maus tratos daqueles que Ela tão generosamente abrigava, mamãe Natureza perdeu de vez a paciência.
- Aí já é demais! Ninguém merece... - Irritou-se.
A ciência, a ficção, os estudiosos, os sábios e os impostores foram desmentidos pela mãe de todas as mães que, não sem motivos, resolveu portar-se como madrasta, e das megeras, já que seus filhos legítimos se comportavam como os mais abjetos e ingratos dos bastardos.
- Cruéis eles são comigo. Cruel eu serei com eles! – Sentenciou.
Providencial e sábia, a Natureza diminui o ritmo, desacelerou.
A Terra passou a girar bem devagarzinho. As rotações estavam limitadas àquelas que não comprometeriam o equilíbrio gravitacional ao ponto de causar danos irreversíveis ou um cataclismo, mas sim um importante, significativo, mas remediável estrago.
A translação, em torno do Sol, passou a ser lenta e ritmada de forma a fazer com que as semanas levassem meses para passar, e os meses fossem intermináveis. A sensação era de que o tempo havia parado. Relógios não tiquetaqueavam mais, as estações do ano, as fases da Lua, o calendário, tudo foi para o espaço em uma reviravolta de ventos e marés.
Ecologistas de verdade, e os de mentira também, astrofísicos e estudiosos do ar, da terra e do mar se recolheram em universidades, se reuniram em fóruns e vídeo conferências tentando entender o que estava acontecendo.
Enquanto isso, doidivana que só, a Terra ignorava a tudo, a todos e girava, rodopiando lentamente ao seu bel prazer sem dar a menor bola para o caos estabelecido, para o sertão que ameaçava virar mar.
O doutor em cosmologia, matemático lucasiano e mais aclamado cientista da atualidade, Stephen Hawking, nem ele e nem mesmo o próprio Criador, ninguém poderia prever que o Planeta daria um basta no homem.
Astrônomos e astrólogos, engenheiros e tecnólogos, marxistas veteranos e jovens agnósticos, sacerdotes de todas as religiões se uniram em um só esforço. Crenças, desavenças e cismas foram abandonadas. Israelenses e palestinos, xiitas e liberais marcaram encontro em território neutro.
Pela primeira vez em séculos, os americanos pararam para ouvir.
Ouviram, concordaram e apoiaram, repetindo o bordão favorito dos legítimos sobrinhos do Tio Sam:- Deus Salve a América!
A Terra continuou a maneirar nos movimentos até causar o por Ela tão esperado, e já tardio, arrependimento global.
- Soubesse que ia ser tão fácil... Tinha feito isso antes! – Pensou consigo.
Ao experimentar o efeito de seus abusos, o ser humano criou algo parecido com o que talvez, um dia, se possa chamar de consciência universal.
A Natureza, toda a sua força, poder e pujança, para o bem e a salvação geral de todos, passou a ser plenamente respeitada e temida. Sem deixar maiores explicações, ao seu tempo e modo, Ela foi colocando tudo em seu devido lugar.
Esse período, que não se sabe precisar o quanto durou, assustou a todos e mudou a ordem das coisas. Mamãe Natureza agora tem certeza: não importa qual o credo, a raça, a cor, o poder ou a idade da civilização, um bom puxão de orelha e um belo castigo fazem bem para todo mundo.