Os dois lados da mesma moeda.
Eram quatro e pouco da manhã quando Carminha tirou o disco de dentro do novo aparelho de DVD que equipa sua sala de estar.
A neta caçula da tradicional família Costa Couto ainda não tinha conseguido dormir quando, do outro lado da cidade, o despertador de Joseílson, José por parte de avô e Ílson por parte de pai, tocou.
Ele pulou da cama, não podia chegar atrasado, já tinha recebido duas advertências. Tomou uma ducha fria enquanto a água para o café instantâneo esquentava. Queimou a língua e saiu correndo.
Carminha se rendeu. Apelou mais uma vez aos remédios e, finalmente, pegou no sono.
Ao chegar à estação, Joseílson se deu conta de que o metrô estava em greve. Correu para o terminal de ônibus, onde já não cabia mais ninguém.
O barulho da chave entrando na fechadura interrompeu o silêncio que habitava os 450 metros quadrados do apartamento que Carminha ganhou de seu avô.
Era a governanta que acabara de chegar.
No escritório de contabilidade em que Joseílson é assistente, o chefe já começara a perguntar por ele:
- Dona Marta, onde se enfiou aquele imprestável?
Já Evangélica, a governanta, atendia educadamente ao telefone.
- Dona Carmem Costa Couto está descansando e pelo que vejo aqui na agenda, só vai poder falar com a senhora na parte da tarde.
Joseílson tentou ligar, mas o celular estava sem crédito e dona Marta, a recepcionista do escritório, terminantemente proibida de aceitar chamadas a cobrar.
Na casa de Carminha, o telefone não parava de tocar. O movimento liderado por ela, as Socialights, um grupo de mulheres muito bem nascidas e engajadas, ativistas sim, mas com muita classe e sofisticação, promovia campanhas comunitárias, coletas de donativos e agora, a última moda, passeata de famosos e famosas em vias públicas.
Já é hora do almoço e Joseílson continua tentando chegar ao trabalho. O metrô está em greve, o trânsito no terminal de ônibus inviável e o tumulto na estação de trem é assustador.
Passa do meio-dia quando o motorista de Carminha chega. Pela manhã, faz todo o serviço de banco, busca as roupas na lavanderia, as compras no empório e, à tarde, reserva para a patroa.
Ao voltar para casa, o motorista de Carminha cruzou com o amigo Joseílson, que cambaleava pela rua. Parou o carro e o levou de carona.
Depois de muito custo, Joseílson conseguiu ligar para o chefe. Tentou explicar o que acontecera, mas não adiantou, foi demitido via Embratel.
No sábado, Carminha aproveitou para se recuperar da noite de sexta e Joseílson custou a curar a tremenda ressaca e a terrível dor de cabeça que o atacaram impiedosamente.
No domingo, Carminha liderou a tal passeata, enquanto Joseílson prestigiou o programa de leitura para crianças carentes criado por sua irmã, a terceira da família de quinze.
Exausta, Carminha adormeceu enquanto revisava as últimas tendências de moda em uma revista italiana. Do outro lado da cidade, Joseílson também não resistiu e tombou sobre os classificados do jornal em que procurava por um novo emprego.
A neta caçula da tradicional família Costa Couto ainda não tinha conseguido dormir quando, do outro lado da cidade, o despertador de Joseílson, José por parte de avô e Ílson por parte de pai, tocou.
Ele pulou da cama, não podia chegar atrasado, já tinha recebido duas advertências. Tomou uma ducha fria enquanto a água para o café instantâneo esquentava. Queimou a língua e saiu correndo.
Carminha se rendeu. Apelou mais uma vez aos remédios e, finalmente, pegou no sono.
Ao chegar à estação, Joseílson se deu conta de que o metrô estava em greve. Correu para o terminal de ônibus, onde já não cabia mais ninguém.
O barulho da chave entrando na fechadura interrompeu o silêncio que habitava os 450 metros quadrados do apartamento que Carminha ganhou de seu avô.
Era a governanta que acabara de chegar.
No escritório de contabilidade em que Joseílson é assistente, o chefe já começara a perguntar por ele:
- Dona Marta, onde se enfiou aquele imprestável?
Já Evangélica, a governanta, atendia educadamente ao telefone.
- Dona Carmem Costa Couto está descansando e pelo que vejo aqui na agenda, só vai poder falar com a senhora na parte da tarde.
Joseílson tentou ligar, mas o celular estava sem crédito e dona Marta, a recepcionista do escritório, terminantemente proibida de aceitar chamadas a cobrar.
Na casa de Carminha, o telefone não parava de tocar. O movimento liderado por ela, as Socialights, um grupo de mulheres muito bem nascidas e engajadas, ativistas sim, mas com muita classe e sofisticação, promovia campanhas comunitárias, coletas de donativos e agora, a última moda, passeata de famosos e famosas em vias públicas.
Já é hora do almoço e Joseílson continua tentando chegar ao trabalho. O metrô está em greve, o trânsito no terminal de ônibus inviável e o tumulto na estação de trem é assustador.
Passa do meio-dia quando o motorista de Carminha chega. Pela manhã, faz todo o serviço de banco, busca as roupas na lavanderia, as compras no empório e, à tarde, reserva para a patroa.
Ao voltar para casa, o motorista de Carminha cruzou com o amigo Joseílson, que cambaleava pela rua. Parou o carro e o levou de carona.
Depois de muito custo, Joseílson conseguiu ligar para o chefe. Tentou explicar o que acontecera, mas não adiantou, foi demitido via Embratel.
No sábado, Carminha aproveitou para se recuperar da noite de sexta e Joseílson custou a curar a tremenda ressaca e a terrível dor de cabeça que o atacaram impiedosamente.
No domingo, Carminha liderou a tal passeata, enquanto Joseílson prestigiou o programa de leitura para crianças carentes criado por sua irmã, a terceira da família de quinze.
Exausta, Carminha adormeceu enquanto revisava as últimas tendências de moda em uma revista italiana. Do outro lado da cidade, Joseílson também não resistiu e tombou sobre os classificados do jornal em que procurava por um novo emprego.